terça-feira, 13 de setembro de 2011

MANSIDÃO

Conhecendo o Espírito de Mansidão

A UNÇÃO DO FRUTO DA MANSIDÃO - (prautē). πραοτησ

(Dia 05/06/2011)
TEXTO: “Mas o fruto do Espírito é ... Mansidão” (Gl. 5:22) prautē
INTRODUÇÃO
O número oito na lista do fruto do Espírito Santo (Gálatas 5:22.23) é  prautēpalavra grega traduzida por mansidão, ou brandura, ou ainda suavidade. O que é a qualidade de brandura ou suavidade? Certamente no sentido bíblico não é fraqueza, nem é rebaixar-se nem menosprezar-se.
R. N. Chaplin comenta: “Trata-se de uma genuína falta de maldade e aspereza, de mistura com as qualidades da paciência e da gentileza. Trata-se de uma submissão do espírito humano para com Deus; e, em seguida, para com o homem. A mansidão é resultado da verdadeira humildade, por causa do reconhecimento do valor alheio, com a recusa de nos considerarmos superiores. Deus é a fonte dessa graça, e Cristo Jesus é o seu exemplo supremo, o que demonstrou em todo o seu modo de tratar os homens.”
Mansidão é suavidade, indulgência para com o fraco e errado, sofrimento paciente ao receber injúrias sem sentir um espírito de vingança e até equilíbrio em todas as paixões e temperamento, o completo oposto de raiva. (Clarke)
TRADUÇÕES DA PALAVRA
A palavra grega prautēs é também traduzida às vezes por "humildade." Na realidade é uma palavra difícil de definir, porque não há de fato uma palavra em nossa língua que corresponda ao vocábulo grego.  O Dicionário dá um significado mais antigo de brandura como "suportando a ferida com paciência e sem ressentimento". Talvez não seja um significado muito longe da palavra bíblica, mas o grego é muito mais positivo.
Aqui estão algumas diferentes definições da qualidade da mansidão, de diferentes fontes:
·         Suavidade combinada com ternura;
·         Graciosidade, bondosa disposição, força controlada;
·         uma disposição que é moderada, tranqüilo, equilibrado em espírito, despretensioso e que tem as paixões sob controle;
·         um caráter que é eqüitativo, razoável, suportativo, moderado;
·         Poder e força sob controle;
·         Disposto a perdoar feridas, corrigir faltas. Alguém que governa bem seu espírito.
PRAUTĒS COMO É DEFINIDA PELOS SÁBIOS GREGOS
  1. Para descrever pessoas ou coisas que têm nelas uma certa qualidade tranqüilizadora. Por exemplo, ter uma conduta humilde e amável que acalma a irritação de outros.
  2. Para descrever a gentileza de conduta, especialmente por parte das pessoas que têm o poder de atuar de outra maneira. Por exemplo, um rei perdoando a um servo que falhou em uma tarefa.
            O rei tem a autoridade e o poder para castigar
            Mas escolhe em lugar disso mostrar bondade e perdão
Tal rei seria gabado por seu comportamento gentil e humilde.
  1. Para descrever a habilidade de receber comentários cruéis com bom coração. Por exemplo, quando é enredado em controvérsia. Ser capaz de discutir coisas sem perder o temperamento devido a observações pessoais cruéis e injustas.
  2. Com mais frequência, para descrever o caráter no qual a fortaleza e a mansidão estão perfeitamente combinadas. Por exemplo, um cavalo obediente às rédeas, um cão guardião amigável para a família que o possui. Apesar de estar presente grande força, é temperada por um espírito gentil;
  3. Aristóteles disse sobre "prautēs." "A capacidade para suportar recriminações e ofender com moderação, sem embarcar em vinganças rapidamente, e não ser provocado facilmente à irritação, mas ser estar livre de amargura e de contenção, tendo tranquilidade e estabilidade no espírito." (Sobre Virtudes e Vícios)
Isto não implica que nunca há um lugar para a irritação no homem gentil. Certamente a pessoa que mostra "prautēs" se zanga "pelo motivo correto, e contra as pessoas corretas, e da maneira correta, e no momento correto, e pelo tempo correto." (Aristóteles, Ética a Nicómaco)
PRAUTĒS É EXEMPLIFICADO POR MOISÉS E JESUS
Os dois personagens bíblicos mais famosos pelo fruto da mansidão, são o Senhor Jesus Cristo e Moisés (Números 12:3; 1 Pedro 2:21-23). Ambos eram grandes libertadores. Moisés para a nação de Israel, e Jesus para o mundo inteiro. Isto demonstra que essa mansidão não é fraqueza, mas a força de ser auto-controlado.
A atitude do mundo em relação à força é agressivamente defender se, mas a força real é encontrada num espírito manso e humilde, uma atitude de poder receber uma ofensa sem retaliar ou exigir seus direitos."Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas” (Mateus 11:29).
O EXEMPLO DO MOISÉS
A Bíblia diz que Moisés destacou-se em mansidão, que é suavidade: “Ora, Moisés era homem mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Números 12:3).
Deus deu-lhe uma elevada posição. É duro para o homem natural ser suave com aqueles o atacam, especialmente se atacam seu posto oficial e honra. Mas Moisés não tentou se defender.
Um exemplo da mansidão de Moisés encontra-se no relato de Números 13:1-8, quando seus irmãos Arão e o Miriã o criticara. Como servo escolhido de Deus ele poderia repreendê-los, mas com humildade preferiu guardou silêncio. Tal silêncio não foi uma manifestação de fraqueza, mas de força de caráter. Certamente, Moisés não era covarde. Simplesmente deixa prevalecer a sua mansidão como resultado de uma opinião humilde de si mesmo!
A mansidão inclui a ideia de que nós não nos preocupamos com o que acontece à nossa honra, tanto quanto o que acontece à honra de Deus e o que acontece com outros.
Em outras ocasiões, quando as circunstâncias o exigiram, vemo-lo agindo com rigor. Exemplo disso é no incidente do bezerro de ouro. Diante da idolatria do povo, construindo para si um bezerro de ouro e adorando-o, quebrando, assim a aliança com Yahweh, ele reage com uma ira santa: “Chegando ele ao arraial e vendo o bezerro e as danças, acendeu-se lhe a ira, e ele arremessou das mãos as tábuas, e as despedaçou ao pé do monte. Então tomou o bezerro que tinham feito, e queimou-o no fogo; e, moendo-o até que se tornou em pó, o espargiu sobre a água, e deu-o a beber aos filhos de Israel”  (Ex 32:19-20). (Ver Ex 32:25-28).
Em Êxodo 32:30-32 o modo como pleiteia com Deus a favor do povo revela que a mansidão de Moisés nada tem a ver com fraqueza. “No dia seguinte disse Moisés ao povo: Vós tendes cometido grande pecado; agora porém subirei a Yahweh; porventura farei expiação por vosso pecado. Assim tornou Moisés a Yahweh, e disse: Oh! este povo cometeu um grande pecado, fazendo para si um deus de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; ou se não, risca-me do teu livro, que tens escrito.”
O EXEMPLO DO JESUS
É dos próprios lábios de Jesus que temos uma viva descrição da marca da mansidão que orna o caráter do Mestre: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.  Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve”  (Mt 11:28-30).
Isaías já antevira essa marca no Messias, ao escrever: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca” (Is 53:7).
E quando chegou o momento dessa profecia de Isaías se cumprir, vemos sua mansidão em meio à Sua maior prova: “Mas ao ser acusado pelos principais sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Perguntou-lhe então Pilatos: Não ouves quantas coisas testificam contra ti? E Jesus não lhe respondeu a uma pergunta sequer; de modo que o governador muito se admirava” (Mt 27:12-14).
Jesus mostrou verdadeira mansidão tanto no meio do conflito quanto da popularidade. Suas curas e milagres frequentemente trouxeram as multidões a uma explosão de entusiasmo. Mas Ele se recusou a deixá-los fazer dEle o tipo de rei que eles queriam. Ele os lembrou da passagem em Isaías 42:1–4, "Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem se compraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele. ele trará justiça às nações. Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na rua. A cana trilhada, não a quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade trará a justiça; não faltará nem será quebrantado, até que ponha na terra a justiça; e as ilhas aguardarão a sua lei.”
Jesus sabia quem Ele era, mas Ele era manso e humilde. A consciência do Seu poder O capacitou a ser manso para com aqueles em necessidade. Ele não esmagaria a cana quebrada, mas a restauraria plenamente. O pavio fumegante de uma lâmpada Ele não terminaria de apagar, mas faria com que ardesse brilhantemente outra vez. Sua mansidão funciona. Ela gera a retidão, e trará a justiça à terra, porque Ele mansamente toma o pecador e o torna completo.
A mansidão de Jesus não era devida à falta de fortaleza. Sua poderosa força já havia sido demonstrada:
·         Ao denunciar aos fariseus  (Mt 23:13 e seguintes)
·         Na purificação do templo (Jo 2:14-17)
Sua mansidão na prova era evidência de fortaleza, não de debilidade!
A palavra de Barclay é aqui oportuna:  "Tratemos a todos os homens com cortesia perfeita; que possamos repreender sem rancor; que possamos discutir sem intolerância; que possamos enfrentar a verdade sem ressentimento, que possamos estar zangados e sem pecar e que possamos ser gentis e entretanto não ser débeis."  
Novamente, esta qualidade vem de se ter uma opinião humilde de si mesmo, junto com a fortaleza interior para controlar as emoções, a língua e o comportamento.
O LUGAR DA MANSIDÃO NA VIDA DOS CRISTÃOS
EM PARTICULAR
1. Vivemos para receber a Palavra de Deus com mansidão (prautēs): “Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” (Tiago 1:21).
2. Devemos nos aproximar de irmãos em engano com um espírito de mansidão (prautēs): “Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado” (Gál 6:1).
3. Devemos corrigir a aqueles que estão em oposição com humildade (prautēs): “E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente; corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade.” (2 Tim 2:24-25).
4. Vivemos para responder perguntas relacionadas com nossa esperança com mansidão (prautēs): “Antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3:15).
EM GERAL
A mansidão (prautēs) é necessária para o cristão que deseja ser sábio: “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz” (Tiago 3:13-18).
O USO DA PALAVRA MANSIDÃO NA BÍBLIA
Para melhor compreensão do significado dessa marca da mansidão passemos pelas passagens na Bíblia onde a palavra grega prautēs é usado.
No Antigo Testamento a Septuaginta usa-o uma vez no Salmo 45:4. O Salmista invoca a Deus: “Cinge a tua espada à coxa, ó valente, na tua glória e majestade. E em tua majestade cavalga vitoriosamente pela causa da verdade, da mansidão e da justiça, e a tua destra te ensina coisas terríveis.”  (Salmo 45:3,4). Obviamente, mansidão não é fraqueza. Não é permitir que alguém se torne um capacho. É parte do caráter do Deus que se move triunfantemente em grandioso poder e vitória.
Em 1 Coríntios 4:21, Paulo lida com pessoas arrogantes e diz: "Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de mansidão?"
Paulo tinha um amor tremendo pelos os crentes em todas as igrejas, mas seu amor não era um mero sentimentalismo cego. Ele sabia que às vezes eles precisavam de disciplina, e ele "estava pronto a aplicá-la". Mas ele queria vê-los respondendo em arrependimento para que ele pudesse mostrar-lhes o amor e a suavidade que estava em seu coração em relação a eles.
Em 2 Coríntios 10:1, Paulo apela a eles “pela mansidão e benignidade de Cristo”. Passa então a falar sobre as armas com as quais lutamos, que não são as armas do mundo. Pelo contrário, elas têm poder divino para demolir fortalezas. Nós não somos tomados por cólera, vingança pessoal, avareza, nem orgulho enquanto procuramos vitórias para Cristo. Mas com a suavidade de Cristo podemos triunfar poderosamente.
Os problemas surgem onde mesmo o melhor de nós pode escorregar, assim como alguém talvez escorregue num caminho escorregadio ou perigoso. Se nós verdadeiramente somos cheios do Espírito, mostraremos suavidade, e não dureza e condenação, enquanto tentamos restaurar tal pessoa. Em Efésios 4:2, onde Paulo aconselha-nos a viver de modo digno do chamado que recebemos, ele exorta-nos a demonstrar  "toda a humildade e mansidão, com longanimidade.”  Devemos estar livres de auto exaltação e plenamente submetidos à vontade de Deus, tanto em nossa relação com Ele quanto em nossos relacionamentos com outros.
Em Colossenses 3:12, Paulo aconselha-nos: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, paciência". Isto mostra que o fruto do Espírito necessita nossa cooperação para seu desenvolvimento.
Alguns dizem: "Não se preocupe com o fruto. Simplesmente se aqueça na luz do sol do Seu amor, goze a chuva da Sua bênção, e o fruto automaticamente aparecerá". Mas as coisas não funcionam assim. Temos que fazer morrer as obras da carne. Temos que tomar a nós o fruto do Espírito e exercitar nossa fé para desenvolvê-lo (Compare 2 Pedro1:5–11).
Em Tito 3:2 Paulo o instrui a “que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas moderados, mostrando toda a mansidão para com todos os homens.” Inclui a ideia de ir socorrer os que se encontram em necessidade, mantém ainda o controle sobre os próprios sentimentos.
Alguém salientou que coragem não está na lista de Paulo do fruto do Espírito. Mas devemos reconhecer que demanda coragem de ser manso, suave ou gentil no meio de todo o mal que nos cerca neste mundo. Exigiu coragem por parte de Paulo levantar-se contra o espírito de partidarismo que havia se desenvolvido em Corinto e que se tinha tornado quase um vício.
CONCLUSÃO
Suavidade ou mansidão nunca é uma modéstia falsa, uma auto-depreciação, nem um “tirar o corpo de lado,” quando precisa ficar firme diante de algo. A mansidão nunca é uma fuga covarde da realidade, que substitui um egoísmo passivo pela suavidade real só para evitar problemas, mas de modos que permitem que tais problemas se tornem ainda maiores. Nem é uma humildade falsa que se recusa a reconhecer que Deus nos deu talentos e capacidades ou que se recusa a usá-los para Sua glória.
Em nosso viver diário não podemos evitar o surgimento de situações que trazem conflitos com as pessoas. É fácil no natural reagirmos com violência ou raiva, especialmente se nos sentimos inseguros em nossa posição. Mas quando aceitamos a realidade de que estamos em Cristo e confiamos no Espírito Santo para ajudar-nos, podemos ser mansos diante de quaisquer conflitos que possam surgir.
Alguém que está andando no Espírito o está fazendo para ser uma pessoa gentil, até nas circunstâncias de maior prova. Não devido à debilidade ou à covardia, mas devido à humildade, unida com a fortaleza interior para controlar o comportamento.

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